O setor agropecuário possui algumas especificidades que o diferenciam dos demais setores econômicos, como o industrial e o de serviços. Essas singularidades aumentam ainda mais os desafios para a coordenação e gerenciamento das atividades das empresas do agronegócio brasileiro. Esse post foi feito a partir de Arbage (2012) e Batalha (2021):
Os produtos são produzidos na forma bruta, tal fato implica numa necessidade de processamento do alimento para o consumo final. Essa especificidade afeta principalmente o mecanismo de comercialização a ser adotado pelo produtor rural, que vai depender diretamente do tipo de produto e dos processos industriais relacionados à adequação do alimento para o consumo humano. No caso de um bovinocultor de leite, será necessário que o indivíduo estabeleça uma relação comercial com um laticínio, para que o leite possa ser processado em requeijão, iogurte, queijos e dentre outros para o consumidor final.
Por sua vez, o produtor rural especializado na avicultura de postura (produção de ovos) possui condições de realizar as atividades de preparação e adequação do produto na própria propriedade para ser direcionado ao consumidor final, como por exemplo, na realização das ações como de coleta, seleção, limpeza e empacotamento dos ovos a serem vendidos diretamente ao consumidor final ou para restaurantes, supermercados, etc.
A perecibilidade é outra especificidade dos produtos agropecuários. Está relacionada com a vida útil do alimento. Vale citar que alguns produtos agropecuários são altamente perecíveis, como por exemplo, o leite, que se estiver armazenado em condições inadequadas, pode resultar na perda da produção em poucos dias. Por sua vez, produtos como a soja e milho, quando armazenados em condições adequadas, possuem uma vida útil mais longa (aproximadamente três meses). Diante disso, a partir das características do produto, o produtor rural deve se atentar com a estrutura física de armazenamento da produção e de escoamento dos produtos no ato da comercialização.
A sazonalidade pode exercer uma influência sobre o processo de gerenciamento da propriedade rural. Nas atividades de bovinoculturas de corte e de leite que possuem a pastagem como um insumo produtivo, existe a influência da sazonalidade sobre a disponibilidade do pasto ao longo do ano. Já que nos períodos de chuva, existe uma maior disponibilidade de pastagens para o rebanho e, durante a época de seca, há uma falta desse recurso. Dessa forma, torna-se necessário que o produtor rural realize um planejamento nutricional anual para manter o desempenho zootécnico do rebanho favorável e constante ao longo do ano.
Além disso, caso a atividade principal explorada na propriedade tenha uma disponibilidade do produto para a comercialização em determinadas épocas do ano (em virtude da sazonalidade, como por exemplo, as culturas perenes como a manga, caju, etc.), é importante que o produtor rural explore outra atividade econômica na propriedade com o objetivo de diversificar as fontes de renda da propriedade rural. O termo de diversidade produtiva pode ser definido quando mais de um tipo de atividade econômica é explorada na propriedade rural.
Os fatores climáticos (excesso ou faltas de chuvas e ondas de calor) e biológicos (ocorrência de pragas e doenças) podem afetar o ciclo de produção de uma propriedade rural. Esses acontecimentos podem afetar o nível de produtividade da cultura ou o desempenho zootécnico dos animais, que por sua vez poderá diminuir o ganho financeiro com a comercialização da produção (já que existe a possibilidade de redução do nível de produtividade e, consequentemente, do nível de produção total a ser vendida). Outro aspecto que pode ser afetado por fatores naturais (variações climáticas e/ou ocorrência de doenças) é sobre a qualidade do produto. A qualidade se relaciona com as especificações técnicas que o produto deve possuir ao ser utilizado como matéria-prima em uma indústria de processamento. Essa característica pode contribuir para a elevação do risco na atividade.
A produção agropecuária é realizada em larga escala e por muitos produtores, o que contribui para a elevação do nível de concorrência na produção dos produtos agropecuários. Quando se trata da produção em larga escala, relata-se da participação da produção brasileira em relação à mundial para alguns tipos de produtos agropecuários, como é o caso da soja e da carne bovina.
Quando se trata de muitos produtores, relata-se da existência de milhares de indivíduos que participam da produção de determinada cultura ou criação animal ao longo do território nacional. A partir dessa característica estrutural do setor agropecuário, relata-se que os produtores rurais podem ser classificados como “tomadores de preço”. Ou seja, individualmente não possuem a capacidade de influenciar no processo de formação do preço do produto. O preço do produto é determinado a partir das condições de mercado (Oferta e Demanda) para determinado período. Sendo assim, o mecanismo adequado para a maximização da lucratividade da atividade em uma propriedade rural é através do controle dos custos produtivos.
Existe uma defasagem temporal entre o investimento realizado na propriedade e o retorno financeiro alcançado por meio da comercialização do produto agropecuário. Essa realidade vai afetar principalmente a estrutura do fluxo de caixa de um empreendimento agropecuário.
O Fluxo de Caixa pode ser definido como a relação de entradas e saídas de recursos financeiros de uma empresa em determinado período (CREPALDI, 2012). Alguns exemplos no setor rural são da bovinocultura de corte especializada na fase de engorda (ou terminação) o ciclo de produção pode ser de 90 a 110 dias, a avicultura de corte o ciclo médio é de 42 dias, a soja possui um ciclo produtivo de 90 a 115 dias, etc. Por meio da Figura 1 é possível observar o fluxo financeiro hipotético de uma propriedade rural.
Em relação ao fluxo financeiro de uma propriedade rural, os custos e despesas existirão no período de janeiro a dezembro. Já os ganhos financeiros obtidos pela comercialização da produção (receita total) existirão apenas nos períodos de disponibilidade do produto (Figura 1). Dessa forma, atribui-se a importância do controle financeiro da propriedade no período anual.
A existência de novos desafios tecnológicos ligados aos processos biotecnológicos. A produção agropecuária tem sido realizada dentro de uma lógica de intensificação sustentável que está dependente de avanços tecnológicos que vão além dos ganhos tradicionais em mecanização de lavouras e manejos de rebanho. Como por exemplo, a utilização de tecnologias que promovam um aumento da produtividade e conservação dos recursos naturais, sem que haja a necessidade de expansão da atividade agropecuária em terras não agrícolas.
Vale destacar o aprimoramento e a difusão acelerada de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem levado a importantes mudanças no âmbito do gerenciamento das atividades das empresas do agronegócio. Dentre os principais tipos de atividades, destacam-se as áreas de planejamento da produção, logística, marketing, controle de desempenho e nos relacionamentos com clientes e fornecedores. Uma prática crescente no setor agropecuário é a rastreabilidade dos produtos que fornece informações sobre as especificações técnicas do alimento e do processo produtivo. Esse fenômeno tem se tornado mais frequente em função da globalização que impulsiona o processo de difusão de tecnologia entre os setores produtivos.
Migração do poder de mercado das agroindústrias para os distribuidores. Fatores como a proximidade com o consumidor, o advento de técnicas cada vez mais avançadas de comércio que definem novas formas de negócio e o fortalecimento das “marcas próprias” são aspectos que têm fortalecido o papel da distribuição na comercialização de alimentos no mercado contemporâneo.
Espero que tenham gostado do texto intitulado de “Especificidades do setor agropecuário” e fiquem à vontade em navegar em mais conteúdos do Conceitos do Agro, o seu acervo do conhecimento em Gestão Rural!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARBAGE, A. P. Fundamentos de Economia Rural. Chapecó: Argos, 2012.
BATALHA, M. O. Gestão e economia dos sistemas agroindustriais: definições, correntes metodológicas e métodos de análise. In: BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão Agroindustrial (pp. 1-48). São Paulo: Editora Atlas, 2021.
CREPALDI, S. A. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial. São Paulo: Atlas, 2012.