Buainain e Silveira (2017) relatam que as mudanças climáticas estão contribuindo para a elevação dos riscos na produção agropecuária mundial em virtude dos eventos meteorológicos extremos e das catástrofes naturais (que podem ser representadas pelas intempéries climáticas). As principais consequências da elevação dos riscos no setor rural estão relacionados com a redução dos níveis de produtividades agrícola e pecuária, bem como contribuir para uma maior ocorrência de doenças e pragas nos sistemas produtivos.

Junto das mudanças climáticas, no contexto mundial, destaca-se o aumento da demanda por alimentos, principalmente nos países em Desenvolvimento (CAMPBELL et al., 2016). Pretty e Brarucha (2014) ressaltam que a limitação de recursos naturais, como a água, o solo e biodiversidade afetarão os sistemas produtivos agropecuários, principalmente no objetivo dos países em promover a expansão da atividade agropecuária.

Sendo assim, o aumento da produção de alimentos no mundo deve ocorrer a partir do aumento da produtividade dos fatores produtivos e da conservação dos recursos naturais para que haja uma continuidade dos sistemas agropecuários no longo prazo. Souza Filho e Vinholis (2021) observam que a noção de Desenvolvimento Econômico (anteriormente associada à expansão do nível de produção, sem considerar os possíveis impactos da atividade econômica sobre o meio ambiente e bem-estar da população) tem mudado em direção a uma visão mais consensual de que a conservação dos recursos naturais e a melhoria dos padrões de vida da população devem ser alcançadas de modo simultâneo pelos países.

Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que os países devem alcançar até o ano de 2030 e a ODS 2 está relacionada com a “Fome Zero e Agricultura Sustentável” com as seguintes metas:

Meta 2.3 – Até o ano de 2030, promover o aumento da produtividade agrícola e a renda dos produtores rurais com baixo nível de produção. Em especial, as mulheres, os agricultores familiares, os povos e comunidades tradicionais, visando tanto a produção para a subsistência e a garantia da reprodução social dessas populações quanto ao seu desenvolvimento socioeconômico por meio do acesso seguro e equitativo de: (a) as terras; (b) aos serviços de assistência técnica e extensão rural, respeitando-se as práticas e os saberes culturalmente transmitidos; (c) a linhas de créditos específicas; (d) aos mercados locais e institucionais, inclusive aos canais de comercialização de políticas de compras públicas; (e) ao estímulo ao associativismo e ao cooperativismo; e, (f) a oportunidades de agregação de valor e emprego não-agrícola (IPEA, 2022).

Meta 2.4 – Até o ano de 2030, incentivar os sistemas sustentáveis de produção de alimentos, por meio da criação de políticas públicas de pesquisa, de assistência técnica e extensão rural, entre outras, que visem implementar práticas agrícolas resilientes que aumentem a produção e a produtividade e, ao mesmo tempo, ajudem a proteger, recuperar e a conservar os recursos ecossistêmicos, fortalecendo a capacidade de adaptação das mudanças climáticas, como as condições meteorológicas extremas, como as secas, inundações e dentre outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo (IPEA, 2022).

Meta 2.a – Aumentar o investimento, inclusive por meio do esforço da cooperação internacional, em infraestrutura, pesquisa, assistência técnica e extensão rural, no desenvolvimento de tecnologias e no estoque e a disponibilização de recursos genéticos de plantas, animais e microorganismos, incluindo variedades crioulas e parentes silvestres, de modo que proporcione um aumento da capacidade de produção agropecuária que seja ambientalmente sustentável. Esses tipos de ações devem priorizar os povos e comunidades tradicionais, agricultores familiares, pequenos e médios produtores, adaptando as novas tecnologias disponíveis aos sistemas de produção tradicional e levando em consideração das diferenças culturais que possam existir nas diferentes regiões de um país (IPEA, 2022).

Meta 2.b – Corrigir e prevenir todas as restrições ao comércio e distorções nos mercados agropecuários no mundo, incluindo também a eliminação paralela de todas as formas de subsídios à exportação e todas as medidas de exportação com efeito equivalente, de acordo com o mandato da Rodada de Desenvolvimento de Doha (IPEA, 2022).

De acordo com as metas da ODS 2, o Desenvolvimento Rural Sustentável deve abranger uma diversidade de aspectos, que são relacionados com a eficiência dos sistemas produtivos, conservação dos recursos naturais, inclusão produtiva e mercadológica de produtores rurais com baixo nível de produção, políticas públicas setoriais de crédito, pesquisa e assistência técnica e extensão rural, conservação da biodiversidade, garantia da segurança alimentar e nutricional mundial, redução da pobreza no campo, preservação dos conhecimentos e saberes tradicionais, resiliência dos sistemas produtivos frente às mudanças climáticas, promoção das organizações coletivas entre os produtores rurais, como as Associações e Cooperativas e dentre outros aspectos.

Espero que tenham gostado do texto intitulado de “Desenvolvimento Rural Sustentável” e fiquem à vontade em navegar em mais conteúdos do Conceitos do Agro, o seu acervo do conhecimento em Gestão Rural!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUAINAIN, A. M.; SILVEIRA, R. L. F. Manual de avaliação de riscos na agropecuária: um guia metodológico. Rio de Janeiro: ENS-CPES, 2017.

CAMPBELL, B. M.; VERMEULEN, S. J.; AGGARWAL, P. K.; CORNER-DOLLOFF, C.; GIRVETZ, E.; LOBOGUERRERO, A. M.; RAMIREZ-VILLEGAS, J.; ROSENSTOCK, T.; SEBASTIAN, L.; THORNTON, P. K.; WOLLENBERG, E. Reducing risks to food security from climate change. Global Food Security, v. 11, p. 34-43, 2016. Doi: https://doi.org/10.1016/j.gfs.2016.06.002

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – Fome Zero e Agricultura Sustentável. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/ods/ods2.html. Acesso em: 04 de janeiro de 2022.

PRETTY, J.; BRARUCHA, Z. P. Sustainable intensification in agricultural systems. Annals of Botany, v. 114, n. 8, p. 1571-1596, 2014. Doi: https://doi.org/10.1093/aob/mcu205

SOUZA FILHO, H. M.; VINHOLIS, M. M. B. Desenvolvimento agrícola sustentável. In: BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão Agroindustrial (pp. 367-400). São Paulo: Atlas, 2021.